Uma pergunta: você já percebeu que existem alguns locais onde você se sente bem, feliz e pertencente, e em outros lugares, sem muita explicação, você até se sente meio desconectado do espaço físico ao seu redor? Muitas vezes não conseguimos explicar direito essa sensação.
Por que alguns espaço nos agradam tão a mais que outros? E a verdade é que essa influência realmente acontece de forma muito sutil, muitas vezes até inconscientemente.
O fato é que os espaços físicos influenciam, e muito, as nossas emoções. E nós aqui do Studio seguimos acreditando que a arquitetura pode melhorar a vida de muita gente. Sabemos, por exemplo, que se tratando da microescala, os espaços de trabalho fossem mais bem iluminados e arejados, as pessoas teriam um maior rendimento e melhores sensações durante a realização das tarefas diárias. Se os alunos tivessem espaços organizados e conservados, poderiam realizar tarefas melhores e se concentrar com mais facilidade. Os espaços médicos poderiam acolher melhor os pacientes se fossem planejados para isso e sabemos também que lugares dignos para moradias exigem pelo menos um pouco de arquitetura.
Na escala das cidades, sabemos que centros urbanos estão a cada dia mais cheios... Grades, muros, cercas elétricas e a proliferação de condomínios fechados são algumas das interferências que o medo da violência provoca na paisagem urbana.
A arquitetura e o urbanismo podem minimizar esses problemas, melhorando os índices de qualidade de vida, simplesmente com a implementação de conceitos arquitetônicos e urbanísticos específicos? Respondemos com certeza: muitas dessas respostas passam pela arquitetura.
Os atuais recursos espaciais de segurança - ainda que bem intencionados - só contribuem para perpetuar o problema.
Um primeiro e importante passo para diminuir a violência, por exemplo, seria usar a arquitetura e o urbanismo para intensificar a vivência urbana, diminuir a segregação espacial e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Vendo essas como algumas soluções, torna-se praticamente impossível não questionar o valor do arquiteto na atual sociedade contemporânea.
Uma certeza: ruas sem vida são inseguras.
Em seu livro “Morte e vida das grandes cidades” (publicado em 1961) a jornalista Jane Jacobs já dizia que a segurança dos espaços urbanos é favorecida pelos 'olhos da rua'. Propondo assim o resgate às ricas pré-existências da cidade multifuncional, compacta e densa onde a rua, o bairro e a comunidade são vitais na cultura urbana.
“Manter a segurança da cidade é tarefa principal das ruas e das calçadas”.
Uma rua segura é a que propõe uma clara delimitação entre o espaço público e o privado, com gente e movimento constantes, onde os edifícios tenham visão para as calçadas, para que muitos olhos a protejam. A mistura de usos, a densidade equilibrada, a proteção do patrimônio arquitetônico e urbano, a prioridade dos pedestres, as identidades dos bairros ou o cuidado ao projeto do espaço público e do espaço privado são questões avaliadas diariamente no desenvolvimento do trabalho de um arquiteto.
Um futuro melhor pra humanidade e pro planeta depende de cidades melhores. Nossa “qualidade de vida” não pode depender de guetos protegidos por muralhas, alarmes e exércitos privados.
Devemos voltar a olhar o espaço público como o coração da vida moderna; seu projeto, seu uso, sua gestão e novas funções. Repensar a rua, a praça, o parque, a arborização e a paisagem urbana...
Aquela que nos permita humanizar o espaço público e experimentar o encontro, o intercâmbio e a diferença.
No século 21, uma cidade bem planejada é pensada para as pessoas. Nela, o carro perde protagonismo. O transporte público e os espaços comuns (praças, parques, vias de lazer) são mais valorizados.
Assim, o papel do arquiteto como propagador da “boa” qualidade de vida torna-se ainda mais importante e presente.
Claro que a arquitetura também cria muita violência. Constrói paredes, divide pessoas, segrega... Assim, sabemos que ela tem um papel fundamental na dinâmica social.
E um dos papéis mais importantes, porque trata da espacialidade. Ela pode ser uma grande facilitadora na questão da inclusão, do uso do espaço público, da relação com os rios e a água.
A arquitetura e os profissionais podem ajudar na melhora da qualidade de vida se pensarem de dentro para fora.
Focar no pequeno cotidiano e transformar isso em um projeto, em vez de pensar em grandes concepções de arquitetura. Ou seja, as miniações, que acontecem de dentro para fora, têm poder de contaminar o vizinho de forma muito positiva.
O arquiteto deve ter a humildade, a inteligência e a sensibilidade de sentir e observar a cidade contemporânea, ir solucionando problemas e inspirando as pessoas no dia a dia.
Você, como cidadão: aproprie-se da cidade. Ela é sua. Você tem essa liberdade e ainda mais importante: você tem essa responsabilidade.
Um grande problema é que as pessoas não consideram a cidade como sendo delas. Ao domesticá-la mentalmente, ou seja, ao considerar que a cidade é a extensão da sua sala, você começa a respeitá-la mais.
Cada um de nós pode cuidar do espaço público e também da própria calçada, pode plantar a própria árvore, ter a própria horta, andar de bicicleta. Desta forma, a cidade gera uma interface entre nós e as outras pessoas.
É por isso, por essa importância que vemos no nosso trabalho, que acreditamos na arquitetura. Acreditamos na utilidade do nosso trabalho e na importância que ele tem pro futuro.
Se você vê valor em tudo que falamos aqui, a gente tem muito o que conversar. Pode chamar a gente por aqui. Vai ser um prazer marcar um café :D